Competência cultural e lei dos cuidados inversos: caminho obscuro para a equidade?

Gregório Victor Rodrigues, Eric Ávila Pires, Maria Teresa Garcia Alves, Brenda Corrêia de Godoi, Janaine Aline Camargo de Oliveira Camargo

Resumo


Introdução: A competência cultural é tida por Starfield (2002), como atributo derivado da prática na Atenção Primária a Saúde e dialoga diretamente com a forma como a pessoa compreende seu adoecimento e constrói seus modelos explicativos do fenômeno (Hinds, 2002).Em um país de tantos contrastes e diversidade,é um desafio ao profissional estar apto a se comunicar sem ruídos com sua população (Pendleton,2011).

Objetivos: Relatar caso atendido em nosso Centro de Saúde em que a habilidade de comunicação e abertura para transpor as dificuldades de expressão e linguagem contribuíram para o raciocínio clínico e para as decisões pertinentes ao processo de cuidado. Problematizar a competência cultural na prática clínica.

Metodologia ou descrição da experiência: Usando-se dados retrospectivos e analise qualitativa, apresentamos o relato de um caso acompanhado em 2 consultas no mês de abril de 2013. Trata-se de JRN, 58 anos, masculino, portador de epilepsia, com dificuldade de autocuidado e insuficiência familiar. A anamnese foi peculiar por queixas como “já fui a UPA por um abafamento garrado no peito” e “tenho ficado fora do ar”, abordadas por técnica de resposta em espelho e sistematização de demandas para melhor compreensão. Ao olhar para o mundo de JRN, pudemos concluir que ele apresentava dor mecânica em parede torácica e retorno crises epilépticas recorrentes: “saio fora do ar, tipo apago, quando volto já passou tempo e fico sonso, atordoado”.

Resultados: O andar da consulta foi condicionado à competência cultural, por meio da escuta ativa e abertura aos significados atribuídos pela pessoa (Targa, 2010). JRN foi tratado para a dor mecânica com melhora e tentamos ajuste dos anticonvulsivantes, contudo, não tivemos retorno sobre possibilidade de compra de uma medicação. Com limitação cognitiva para o autocuidado, JRN veio a falecer em internação em junho sem informação precisa se por crise ou AVC. O caso nos traz reflexão sobre acesso (Starfield, 2002) e a lei dos cuidados inversos (Hart,1971): nosso sistema de saúde está apto para acolher as limitações daqueles a quem presta cuidado? A formação profissional capacita para a cultura popular?

Conclusões ou hipóteses: A partir da práxis, observamos o grande potencial do cuidado à saúde sensível e competente interculturalmente. Canalizar mais recursos para aqueles com alguma limitação é o próprio exercício da equidade, um desafio. É preciso técnica qualificada e sistematizada para que o profissional transite naturalmente entre mundos e universos, transduzindo linguagens para transcender o encontro terapêutico.


Palavras-chave


Competência Cultural; Lei dos Cuidados Inversos; Experiência de Doença

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